segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Choque de Culturas III

Olá a todos,

sobre o dito "choque de culturas", achei dois programas interessantes. Um é um documentário que passou hoje/ontem no national geographic, sobre o saque "industrial", como diz o filme, que os nazis fizeram à arte e cultura europeia, reduzindo-a a instrumento narrativo do imperativo estético nazi. Ajuda também, penso eu, a perceber como seres humanos como o Hitler, Mão e Pol Pot não são meros ditadores, meros autocratas gananciosos, nem mesmo sádicos, "freaks of nature", socio-patas depressivos que ensaiaram como poucos o seu lado destrutivo e nihilista. Hitler era um aspirante a artista, candidatou-se à academia de Viena no mesmo ano que Egon Schiele. Mas isso é apenas uma manifestação obvia de uma verdade inegável: o seu projecto para a europa, tal como o de Mao para a China ou de Pol Pot para o Camboja, é um projecto profundamente estético, é uma projecção cultural imensa, e imensamente detalhada, precisa, que se foi revelando e acontecendo ao longo do domínio que estes homens tiveram sobre os seus contemporâneos. No caso de Hitler foi não só definido pela humilhação e pobreza de Versailles e pelos documentos apócrifos anti-semiticos trazidos pela nobreza Russa fugida da revolução bolchevique, como pela sua rejeição à e pela academia das artes de Viena e pelo movimento expressionista profundamente heterogéneo, subjectivo, inquietante e complexo que a dominava então; um gritante contraste com simplicidade e pureza familiar do Tirol. Toda esta "arte do estranho", quer expressionista, cubista, modernista não nazi, eslava ou judaica foi declarada ofensiva, impura, desedificante.

O segundo é outra vez um programa de Paula Moura Pinheiro, que considero ser o mais interessante para nós, não por ser mais relevante, pois penso que há muito para tratar ainda, na Europa, sobre o Nazismo, sobre a intolerância, sobre a própria tolerância, que é tratar a nossa forma de agir e pensar como o normal e a dos outros como diferente (e do normal para o normativo e do diferente para o anormal e impuro não vão assim tantos passos - ou anos). Nem o é mais relevante, em termos puramente utilitários, por ser da nossa história, pois podemos aprender com a história de toda a humanidade. O que torna este programa mais relevante é que, tal como para os alemães e para toda a Europa ainda há muita reflexão a fazer sobre o nazismo, para podermos livre e conscientemente decidir para onde queremos ir, também para nos ainda há muito a discutir e a pensar sobre os eventos que se sucederam a 25 de abril de 1974. Mas sem dúvida o mais interessante deste programa do câmara clara é que reafirma, pela evidência do testemunho, a capacidade da boa ficção de tratar problemas complexos, de encarar de frente, com um conjunto de espelhos que o autor cria, os grandes mitos, os grandes temas e problemas, da nossa condição e situação. E de os sobreviver por completo. Um evangelho da esperança.

Aqui estão os "links"

http://megavideo.com/?v=HCL57OIX - documentário do saque de arte nazi

http://www.rtp.pt/multimediahtml/video/camara-clara/2011-11-13 - câmara clara

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