Caro colega Alexandre,
Queria exprimir a minha opinião face à questão que colocaste.
Como católica que sou, ou seja, como um terceiro que poderia ficar negativamente sensibilizada face à última encenação do italiano Romeo Castelluci, “Sul concetto di volto nel figlio di Dio” devo dizer-te que sinceramente fiquei sensibilizada face ao conteúdo da peça em questão.
Contudo, não é por não me agradar o conteúdo que acho que a peça deva ser abolida ou por achar que é uma ofensa à religião católica.
Apesar de não ter assistido à encenação, não creio que tenha sido uma ofensa de tal modo gravosa que mereça que a sua encenação seja abolida.
Uma encenação é sempre uma maneira, mais ou menos imaginativa de interpretar uma situação da vida num local apropriado. E foi o que o encenador italiano tentou fazer, simplesmente retratou essa maneira da maneira que entendeu.
Tal como tu afirmaste, a liberdade de expressão é um direito intangível e por isso não deveria ter limites. Mas se os tiver penso que a encenação não os ultrapassou, ou seja, não houve um abuso de direito por parte do encenador.
Quando um direito como estes é abusado, normalmente tem o intuito de ferir as susceptibilidades de alguém.
Acima de tudo, o direito de liberdade de expressão é o direito de passar uma mensagem, de transmitir algo, mas sem o objectivo de causar danos DIRECTOS. Todo aquele que se sinta prejudicado ou ofendido com o uso desse direito por parte de alguém, normalmente significa que está de facto a ser directamente atingido, o que não acontece nesta peça, porque o encenador não está a causar danos directamente a alguém.
Do mesmo modo, quando um cristão manisfesta a sua fé, mesmo que não agrade a muita gente, o cristão não tem como objectivo causar danos directamente a quem não é cristão. Não existe nenhuma ofensa directa, pelo que percebi do teu texto, pela parte do seu encenador à sua plateia ou a terceiros.
Penso que a resposta a este caso concreto é o respeito mútuo, tanto da parte do encenador como da parte dos cristãos que sentiram atingidos, em relação à liberdade de cada um para se exprimirem: liberdade do encenador para pôr no palco aquilo que quer transmitir e liberdade de expressão por parte dos cristãos relativamente à sua fé. Esta é a única forma de conciliação que prevejo neste caso, para que não exista uma cultura contra cultura.
Maria Luísa Castelo Branco.
14 de Novembro de 2011 04:24
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